As coisas não andam fáceis por aqui. É tão difícil focar um momento no que sinto e como me vejo que só consegui sentar e abrir o editor de textos por uma sucessão de acontecimentos aleatórios no dia de hoje. Estou infeliz, queridos. Deveras.
Passos pequenos sem muito planejamento ora tem me colocado
mais perto de um caminho que eu pressinto que devo seguir. Uma jornada de
entendimento pessoal, uma retomada de consciência, seria ótimo um acompanhamento
psicológico também, com um terapeuta. Não sei bem por onde começar, mas estou
aqui lançando orações na página branca. Quem diria que este velho hábito
persistiria tantos anos depois?
Hoje, aos 34, tenho usado essa experiência argumentativa e
estilo de escrita moldados em discussões travadas ao longo de incontáveis madrugadas
para responder clientes e fornecedores quando preciso brigar por alguma coisa. Me
sinto mais claro e também mais bélico que já fui. Talvez seja hora de trazer a
experiência dos e-mails e do resto da vida de volta para cá, para esse lugar de
questionamento e amadurecimento de que tanto me distanciei. Comprar algumas
brigas comigo mesmo e ser preciso na sua resolução.
Quero parar um momento e entender essa sensação que me toca
agora. Passei brevemente por alguns textos e me deparei com a confusão e a
dúvida que parece me acompanhar há tempos. Antes disso, nos últimos dois ou
três meses, agonizava e ainda agonizo, pesando e dizendo que perdi meu sentido
e meu senso de objetividade. Já faz algum tempo que me sinto perdido e sem rumo,
mais que sempre. Achei inusitado verificar nessa expedita visita ao passado
(olhando meus textos antigos) que não é bem assim. Quem sabe este sou eu. Esse emaranhado
de dúvidas ao invés de um ser conciso e eficiente.
Penso aqui que a velhice e a solidão começam a me assombrar.
Já se agravam as falhas dos meus cabelos e as dores crônicas começam a
incomodar. Suspeito que as manias devem ser a próxima maldição do tempo a me
abater – Brincadeira, elas vieram primeiro. Mas antes de todas estas há uma dessas
maldições que confronto com mais pavor, é ela que me dá um senso de urgência em
me encontrar, em aproximar-me do trilho que imagino logo ali. Trilho que se eu
seguir, hipoteticamente, estarei a caminho de uma existência mais lógica e
feliz.
Bom, falava da maldição da solidão. Vejo o que a minha
reiterada opção por vagar e buscar novidades pelo caminho me trouxe. Há
benesses, sim. Estou algo mais sábio, ainda que não se trate de uma competição
e que também é impossível comparar com o que teria acontecido comigo, aonde
teria chegado igualmente aos 34 anos se tivesse feito outras opções na minha
vida, isso é verdadeiramente irrelevante. Voltando a solidão... Tenho tantas
pessoas no meu coração que considero tão especiais, diria irrestritamente
amigos, se tivesse convicção que eles também se sentem assim por mim, embora
alguns estejam claramente feridos pela escolha e suas repercussões que fiz em
partir.
Penso em quão preciosos são os próximos minutos em que
conviverei com eles e com meus amados familiares. Penso nas pessoas que amo e
que nunca mais voltarei a ver também. O senso de urgência em encontrar motivos ou
“razão de ser” para a minha existência se agrava. Sinto-me obrigado a descobrir
que tudo sempre teve um sentido, que justifica a dor iminente já sinto e
sentirei cada vez mais nos próximos capítulos da minha vida. Seria um acaso
muito alentador...
E de repente me deparei, neste velho blog, com um pequeno
texto do Bukowski, dizendo que há coisas piores que estar sozinho, mas nada
pior que percebê-las tarde demais. O que, como se eu estivesse lendo Foucault,
embora desvende que a solidão não é assim o pior dos monstros, não me alivia em
nada, pois há outro maior e mais perverso que só não me assombrava pois não o
conseguia enxergar. Enfim registro isso numa última oração deste conjunto, depois
de um outro longo hiato:
- Que não seja tarde demais.