Há quem lute visceralmente pela posse de verdades que, queira ou não, brevemente lhe escaparão pelas mãos. Penso numas quantas certezas, questões e desejos ilegítimos relacionados ao ego que, paranoicamente, a dimensão social impõe ao indivíduo, que ainda o consumo e a propaganda distorcem e proliferam incessantemente. Por estes, o que é irrefutável num instante não tarda a tornar-se dúbio e cair por terra logo que uma novidade que se oponha, por mais efêmera que se apresente, passe a integrar os parâmetros da análise ou mesmo os supere por completo.
Seguindo a lógica, porque concentrar-se em aspectos tão voláteis quanto erráticos, como os sociais e mercadológicos, para orientar nossos devires? Neste ponto Nietzsche colabora extrapolando as motivações e efeitos do entendimento desta questão em um de seus aforismos escritos em Para além do bem e do mal:
“Uma coisa que se esclarece deixa de nos interessar. - Que queria dizer o deus que aconselhou: "Conhece a ti mesmo"? Isto significava talvez: "Deixa de interessar-te por ti! Torna-te objetivo!"- E Sócrates? - E o homem científico?”
Imagino que o velho Fritz conheça o substrato lascivo do pântano em que se embrenhará exaustivamente, à custa de sua plena e positiva evolução, aquele que dedicar-se a busca de respostas genuinamente interiores para explicar seu desconforto em confrontar aquilo que, segundo a portentosa moral da vontade de poder, deveria ser regra inata e inquestionável, virtudes intrínsecas e naturais da espécie humana. No entanto questiona a conotação negativa, de egoísta ou egocêntrico, que normalmente recebe o comportamento introspectivo quando contrapõe a pratica diligente destas virtudes, que tantas vezes foram, e continuarão sendo, descontextualizadas e recorrentemente impostas de modo indevido como compaixão autômata, ou ainda, servidão direcionadas ao socious, buscando nada além da inércia e manutenção da ordem, opondo a tal determinismo jornadas verdadeiramente louváveis que se direcionaram neste sentido.
Mas além, vivemos numa época diferente daquela, caracterizada por entre outros aspectos, a exuberante sedução da propaganda, a quantidade e velocidade dos fluxos de informação e a contínua expansão e dinamização das redes sociais. Uma amostragem empírica ilustra como todas estas dimensões, em constante movimento e transformação quase sempre orquestrados pelo capital, geram um quadro de insegurança cada vez maior e menos solucionável, coibindo progressivamente o pensamento próprio em oposição à idéia do que, convenientemente num dado momento, é postulado como natural.
Tal estado, embora induza-nos a pensar assim por seu impressionante alcance e amplitude, não me parece ter sido um evento deliberadamente construído, por um país, uma seita, um conglomerado de corporações ou qualquer espécie de poder centralizado, mas sim resultar do acúmulo de inúmeros estímulos de diversas fontes. As grandes instituições colaboram grandemente superpovoando o universo simbólico possível com novíssimos ícones e significados sempre presentes em suas propagandas, campanhas religiosas, tão numerosas e sucessivas quanto efêmeras febres e modas inventadas pelas mass-mídia, o estado de tensão criado pela mistificação e multiplicação das dimensões da violência e do terrorismo, dentre outros.Convém, no entanto, recordar que no fim da cadeia, no lado receptor, somos nós a alimentar a mídia e por mais impressionáveis e acostumados a engolir tudo o que ela nos serve processado e enlatado, podemos ou não selecionar e reforçar o que consumimos. Pode parecer uma luta desigual, mas cabe aqui lembrar um conceito de Guattari sobre o efeito de subjetividade coletiva em que explica, enfatizando toda a aleatória e ininterrupta sorte de estímulos que recebemos, como várias pessoas isoladas em distintos lugares, com diferentes vivências e concepções, obtêm soluções equivalentes para seus problemas ou dilemas, construindo desejos, perguntas e pensamentos estranhamente semelhantes.
Sem me alongar desnecessariamente, penso ser tão difícil quanto fundamental formular, dentro das possibilidades, a pergunta mais lógica, conveniente, satisfatória e produtiva. Por outro lado, passada a pequena prostração em não realizar o que momentaneamente lhe toma toda a atenção e aspirações, seja por meio de técnicas de comunicação ou apelações fenomenológicas genéricas, esquivar-se das oportunidades e atrativos, inoportunos e inúteis ,que cruzamos em qualquer busca, parece ao contrário bastante fácil e coerente.
...
Um comentário:
O conceito de Guattari se parece muito com o de Rudolf Arnhein, onde a subjetividade coletiva daquele é quase análoga campo morfogenético deste... e estes dois, tenho certeza que concordariam com Jung, em sua tese de inconsciente coletivo...
e estes três concordariam com o Akasha exotérico, mas isso já são outras impertinencias pedantes, o fato é qui a vida atual, permeada por outros períodos mentais, como a web-vida e a tele-vida, a mass mídia, contém esse caos globalizado a que aludiu... vou reler denovo seu texto hiuahiuahihihiu seu tripudio verbal me enerva rsrs
Postar um comentário