[Elephant man, the wave, once upon a time in America,
one flew over the coockoo’s nest.]
Em determinados tempos convém
registrar nossas percepções com a finalidade de perceber as mudanças que nos
acometeram pela escolha de um ou outro percurso, ou ainda averiguar para onde tal
escolha nos encaminha. Não começa tão bem, por acaso deveria trabalhar mais
enquanto assistia a estas quatro películas, as últimas que vi. Pensar nisso lembra-me
da primeira avaliação da disciplina de projeto IV, em outubro de 2011, quando
ironicamente o arquiteto e professor Francisco Vieira de Campos disse que eu pertencia
ao grupo dos que tinham ideias demais e “andava a ver muitos filmes”. “Espero
que ao menos sejam os bons” respondi, defendendo a metamorfose de contentores
(containers) em escola de dança, um conceito que me brotou na moranga por
questionar a literalidade ingênua e óbvia de ouvir tanto dizer que a dança
é movimento.
Provavelmente é uma necessidade
de afirmar algo de positivo a substituir um progresso idealizado, mas gostei
muito, por diferentes motivos, de cada um destes filmes, que bem ou muito bem
produzidos tem em comum o fato de tratarem suas histórias com os contornos severos
e despidos da realidade. Heróis ou vilões, como ninguém além do acaso poderá
julgar um chofer de taxi ou a criada de toda uma vila de cães, a vida segue e
acordaremos amanhã para continuar ou não fazendo o que é simplesmente nossa
obrigação ou por ventura até nos apeteça um bocadinho.
Como não posso deixar de
mencionar a arquitetura, um pouco a moldar um pouco em resultado do que eu
desenvolvia, encontrei certas ressonâncias entre a concepção de arquitetura do Zumthor
e o processo criativo de Kafka descrito por Deleuze e Guattari. Tem a ver com a
nudez da realidade e algum bom cinema por passarem todos distantes de se pretenderem
épicos e paradigmáticos. Muitíssimo menos que isso, sempre que possível esvaziam-se
de todos os efeitos e até de seus significados, lidam apenas de suas próprias
ferramentas, pormenores e linguagens, deixando o conteúdo de suas obras sempre maleáveis
a lógica e a sorte impossíveis de condensar daquilo que chamamos de vida. Tente
criá-la ou a delimitar, e tu serás pai de Frankenstein ou um peixe preso no
vento.