O
indivíduo é miserável quando tem a obrigação inexorável de
produzir. E isto não é uma questão inscrita na oposição
politico-partidária inescapável aos anos 10 e 20 do vigésimo
primeiro século da história ocidental. Apelo à experiencia pessoal: Frustrações. Em construções coletivas, linhas de
pensamento errantes em busca incerta por iluminação no devir do
percurso, com efeito, tem sempre menos valor que sólidas e assertivas colocações claras, tradicionais e lapidares. Em
processos criativos isso deveria ser a morte um retumbante contrassenso.
Um texto é sempre fragmento da biografia do autor. Contudo,
limitar-se a usar referências pessoais é deselegante e denuncia uma
percepção limitada a própria imediação, e assim, perigosamente inócua. Melhor seria relativizar conclusões de
análises particulares, segmentadas e parciais sobre a própria
vivência. O humano é um prisioneiro das aparências. Para conceder um envólucro científico a pequenos ensaios, estabelecendo premissas consistentes, talvez fosse
necessário concordar que a capacidade cognitiva,
embora limitada a extensão do raio atingido por nosso olhar, é potencializada
em movimento, ao se ampliar a varredura da paisagem a medida em que
ela é desbravada. Ocultar as evidências incultas do orador, emulando com pedantismo o ar e o aspecto do intelectual. Uma boa e oportuna metáfora, de modo simples, amplia o universo da experiência pessoal, infla o estofo de uma argumentação. Máquinas, lavadeiras, mendigos, corvos e florestas - mecanismos para observar nossa própria vivência de um lugar possivelmente novo, completamente débil, mas privilegiado apenas pela mira enviesada. "Sua fraqueza é também a sua força." Todo o esforço de construir ideias embrionárias em termos compreensíveis e compartilháveis é lícito, mas deixa sempre vestígios rastreáveis pelo olfato. O cão caçador não pensa em muito mais que encontrar sua presa, sequer considera assassiná-la, mas a segue impiedosamente, farejar é sua mortífera compulsão. Ilumina-se, surpreendentemente, uma pista. Corremos como um cão que também é presa. Locomover-se adquire um duplo valor.
(Hiato)
Voltemos a primeira afirmação deste texto, já parece mais e mais correta. O encadeamento antagônico de miséria e valor, num mesmo corpo vivo, não é natural. Sinto tais tensões em meus músculos.
Um comentário:
"Todo homem toma os limites de seu campo de visão como os limites do mundo"
Postar um comentário