sábado, 11 de julho de 2020

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Qualquer memória da juventude cabe em um gole de uma cachaça envelhecida fabricada em Paraty. Primeiro, sirva-se de uma dose em um pequeno e confortável copo. Observe o líquido, sua tensão superficial, seu aroma, note uma pequena mancha afastada das bordas que tocam as paredes do copo. Fique um minuto em silêncio e olhe o sol, onde quer que esteja, precisará dele. Perceba onde você está. Considere os pontos cardeais e a referência solar, sinta a distância estendida daí até os lugares em que já esteve e foi feliz. Volte-se na direção e sentido de um lugar em que suas memórias afetivas lhe tocam fortemente. Leve o copo à boca e sugue apenas uma pequena quantidade, segurando este mínimo gole por um segundo entre a língua e o palato. Inspire e engula de olhos fechados. Ainda no escuro, enquanto se abre o sabor da cachaça e é possível sentir desenvolver-se a leve dormência nos lábios, na garganta e no topo da língua, bem ali, poderá acessar um bocado de cenas que certamente vão lhe surgir. Desfrute, nomeie-as, lembre as pessoas e um pouco do contexto envolvido, deixe-se levar pelo texto narrativo que começará a falar dentro da sua cabeça e reviva um pouco aquilo tudo, antes que o som ao redor lhe traga de volta ao presente. Perceba o retro gosto fantástico dessa cachaça.

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