quinta-feira, 21 de maio de 2009

arcadismo de cu é rola

O silêncio que há numa casa de fazenda depois do almoço é desses pesados e mornos; quando nosso estômago cheio amortece o corpo, e a calma do campo amortece a alma. Uma languidez mortífera... não tão digna quanto a libidinosa, e muito menos gratificante que a laboriosa... Mas uma laguidez, de fato! Uma languidez mortífera que adormece cães e gatos pelo assoalho de madeira da sala, e só o grasnar periódico de um ganso infeliz nos faz lembrar que não estamos surdos.
Este calor dos trópicos, bafejo atmosférico paraense, úmido como bafo de sauna, só me faz lembrar de um único caloroso bafejo que supera em intensidade e formosura... mas irei poupá-los de meu lado romântico e infantil que nunca atrofia. Quem me conhece sabe, o mal do século me deichou marcas, e o clichê machadiano encontra solo fértil nos tolos amantes de um Alvarez de Azevedo.
Nunca eu desejei ser menos sensato ou imediatista, mesmo quando minha razão tem sido uma tocha na escuridão de minha sensibilidade emotiva, como tenho desejado ultimamente... Ou melhor, são lampejos de súplicas irracionais, e lapsos de racionalidade em que me pergunto o porquê de pedir tal sandice... a fraqueza por vezes me inebria com a febre da desistência. A cruz de ser um fazendeiro eu não quero carregar. Isto tenho certeza, embora tema até onde vá dar essa minha esperança num futuro melhor. A casca de minha resistência se consome com o tempo, e este tempo é valioso, e esta casca é grossa... Desde quando adicionei sinestesia ao meu vocabulário um leque de "válvulas de scap" abriu-se como um menu de setup interativo em minha mente... Talvez os pixels de nitidez sejam mais visiveis sob a ação tóxica do THC, quando os gráficos se tornam texturizados.... mas isto já são águas passadas. O fato é que ter esperança não é conformismo, mas um resultado empírico de desventuras, usualmente catalogadas como prazeirozas vazões de minhas oníricas inspirações... Se Deus quiser Pastor me ajuda a escrevê-las num livro.
Como muitos de nós que teve a paixão platônica pelo famoso spleen gótico, eu ainda teimo em apreciá-lo de vez em quando; espírito burguês e hedonista que ainda me enchergo, logo a dramaticidade me enleva tal como me enlevava na adolescência... Não estão entediados com isto? Já estou terminando, eu juru, é que o Dreher do meu tio... tava tão acessível... Então este sentimento juvenil vai e vem como um pensamento, que em muitos foi soprado pelas cruezas da vida. Filosofias cafagestes, Kafka, encenações alheias que nos pegam de jeito em nosso círculo social... e Lula! Na presidência! São tantas coisas que concorrem em ocupar-nos espaço no espírito que o romantismo tem sido tachado de infantil e tolo. Pudera, seria algo como o último dos moicanos num salão inglês vestido de culotes e sapatilhas francesas. Algo como uma idéia quase extinta. A mesquinhez de nossas necessidades talvez aguce nossas dignidades filantrópicas, e quiçá cidadãs, mas a retórica narcisista sempre será o ópio de alguém que não quer mais se intoxicar às custas da clandestinidade marginal e ilícita.

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