sexta-feira, 7 de abril de 2023

As coisas não andam fáceis por aqui. É tão difícil focar um momento no que sinto e como me vejo que só consegui sentar e abrir o editor de textos por uma sucessão de acontecimentos aleatórios no dia de hoje. Estou infeliz, queridos. Deveras.

Passos pequenos sem muito planejamento ora tem me colocado mais perto de um caminho que eu pressinto que devo seguir. Uma jornada de entendimento pessoal, uma retomada de consciência, seria ótimo um acompanhamento psicológico também, com um terapeuta. Não sei bem por onde começar, mas estou aqui lançando orações na página branca. Quem diria que este velho hábito persistiria tantos anos depois?

Hoje, aos 34, tenho usado essa experiência argumentativa e estilo de escrita moldados em discussões travadas ao longo de incontáveis madrugadas para responder clientes e fornecedores quando preciso brigar por alguma coisa. Me sinto mais claro e também mais bélico que já fui. Talvez seja hora de trazer a experiência dos e-mails e do resto da vida de volta para cá, para esse lugar de questionamento e amadurecimento de que tanto me distanciei. Comprar algumas brigas comigo mesmo e ser preciso na sua resolução.

Quero parar um momento e entender essa sensação que me toca agora. Passei brevemente por alguns textos e me deparei com a confusão e a dúvida que parece me acompanhar há tempos. Antes disso, nos últimos dois ou três meses, agonizava e ainda agonizo, pesando e dizendo que perdi meu sentido e meu senso de objetividade. Já faz algum tempo que me sinto perdido e sem rumo, mais que sempre. Achei inusitado verificar nessa expedita visita ao passado (olhando meus textos antigos) que não é bem assim. Quem sabe este sou eu. Esse emaranhado de dúvidas ao invés de um ser conciso e eficiente.

Penso aqui que a velhice e a solidão começam a me assombrar. Já se agravam as falhas dos meus cabelos e as dores crônicas começam a incomodar. Suspeito que as manias devem ser a próxima maldição do tempo a me abater – Brincadeira, elas vieram primeiro. Mas antes de todas estas há uma dessas maldições que confronto com mais pavor, é ela que me dá um senso de urgência em me encontrar, em aproximar-me do trilho que imagino logo ali. Trilho que se eu seguir, hipoteticamente, estarei a caminho de uma existência mais lógica e feliz.

Bom, falava da maldição da solidão. Vejo o que a minha reiterada opção por vagar e buscar novidades pelo caminho me trouxe. Há benesses, sim. Estou algo mais sábio, ainda que não se trate de uma competição e que também é impossível comparar com o que teria acontecido comigo, aonde teria chegado igualmente aos 34 anos se tivesse feito outras opções na minha vida, isso é verdadeiramente irrelevante. Voltando a solidão... Tenho tantas pessoas no meu coração que considero tão especiais, diria irrestritamente amigos, se tivesse convicção que eles também se sentem assim por mim, embora alguns estejam claramente feridos pela escolha e suas repercussões que fiz em partir.

Penso em quão preciosos são os próximos minutos em que conviverei com eles e com meus amados familiares. Penso nas pessoas que amo e que nunca mais voltarei a ver também. O senso de urgência em encontrar motivos ou “razão de ser” para a minha existência se agrava. Sinto-me obrigado a descobrir que tudo sempre teve um sentido, que justifica a dor iminente já sinto e sentirei cada vez mais nos próximos capítulos da minha vida. Seria um acaso muito alentador...

E de repente me deparei, neste velho blog, com um pequeno texto do Bukowski, dizendo que há coisas piores que estar sozinho, mas nada pior que percebê-las tarde demais. O que, como se eu estivesse lendo Foucault, embora desvende que a solidão não é assim o pior dos monstros, não me alivia em nada, pois há outro maior e mais perverso que só não me assombrava pois não o conseguia enxergar. Enfim registro isso numa última oração deste conjunto, depois de um outro longo hiato:

- Que não seja tarde demais.

domingo, 4 de abril de 2021


Somatório A única restrição é ter  21 x 21 cm. O formato com o menor lado da A4.  É um quadrado sempre à mão, uma pequena janela.  Uma cela. O espaço confinado do azulejo, que toco calado  para me ouvir respirar.  Estou louco aqui dentro? Estou à deriva? Resta algum controle? Não me sinto caber aqui dentro, preciso sangrar estas margens. Sem movimento, especulo, reflito voltando no tempo. lembro um passeio outro dia numa ilha, sob o sol do verão,  a silhueta da mão estendida, uma magra sombra no chão, na lajota estampada da calçada. Era quente, era úmido.  Era brilhante. E o fogo, e o próprio diabo vieram.  Conto dias, pudera eu ir e vir. Conto anos, conto histórias, conto quantos faltam e quantos tenho. Dizer isso tudo dentro dos limites desta mancha gráfica é uma tentativa de tocar o outro do lado de lá do vidro frio, alto e largo erigido perante todos. Sem nenhuma palavra pra dizer nada não há mensagem, não há novidade, notícia boa ou grande ideia. Ferido por falar e ouvir. Apenas preciso contar. Câmbio.



https://www.instagram.com/cambiografico/

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

 a liberdade poética será sempre o ópio, o ócio criativo e a panacéia da cura, entre artistas, loucos e filósofos... por isso mesmo, as cores que essa liberdade dá com os pincéis da metáfora fazem essa miséria e essa riqueza oscilantes dentro dos seres parecer natural... mas perceber a beleza nisso que aparentemente não é natural, e na verdade, parece mais traço de neurose, ou psicose -neste caso, há de ser forçar a exercícios de meditação, uso de enteógenos, investigações internas das partes obscuras, sem medo ou tabus - certa dose de entrega e loucura na busca de sí mesmo... "conhece a ti mesmo, e conhecerás os deuses e o universo". É a minha disney pessoal, meu ópio existencial, meu placebo teológico, todo o manancial exotérico de uma vida... my precious... mea culpa...

sábado, 11 de julho de 2020

.


Qualquer memória da juventude cabe em um gole de uma cachaça envelhecida fabricada em Paraty. Primeiro, sirva-se de uma dose em um pequeno e confortável copo. Observe o líquido, sua tensão superficial, seu aroma, note uma pequena mancha afastada das bordas que tocam as paredes do copo. Fique um minuto em silêncio e olhe o sol, onde quer que esteja, precisará dele. Perceba onde você está. Considere os pontos cardeais e a referência solar, sinta a distância estendida daí até os lugares em que já esteve e foi feliz. Volte-se na direção e sentido de um lugar em que suas memórias afetivas lhe tocam fortemente. Leve o copo à boca e sugue apenas uma pequena quantidade, segurando este mínimo gole por um segundo entre a língua e o palato. Inspire e engula de olhos fechados. Ainda no escuro, enquanto se abre o sabor da cachaça e é possível sentir desenvolver-se a leve dormência nos lábios, na garganta e no topo da língua, bem ali, poderá acessar um bocado de cenas que certamente vão lhe surgir. Desfrute, nomeie-as, lembre as pessoas e um pouco do contexto envolvido, deixe-se levar pelo texto narrativo que começará a falar dentro da sua cabeça e reviva um pouco aquilo tudo, antes que o som ao redor lhe traga de volta ao presente. Perceba o retro gosto fantástico dessa cachaça.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

domingo, 12 de abril de 2020

Hiato em três vozes



O indivíduo é miserável quando tem a obrigação inexorável de produzir. E isto não é uma questão inscrita na oposição politico-partidária inescapável aos anos 10 e 20 do vigésimo primeiro século da história ocidental. Apelo à experiencia pessoal: Frustrações. Em construções coletivas, linhas de pensamento errantes em busca incerta por iluminação no devir do percurso, com efeito, tem sempre menos valor que sólidas e assertivas colocações claras, tradicionais e lapidares. Em processos criativos isso deveria ser a morte um retumbante contrassenso. Um texto é sempre fragmento da biografia do autor. Contudo, limitar-se a usar referências pessoais é deselegante e denuncia uma percepção limitada a própria imediação, e assim, perigosamente inócua. Melhor seria relativizar conclusões de análises particulares, segmentadas e parciais sobre a própria vivência. O humano é um prisioneiro das aparências. Para conceder um envólucro científico a pequenos ensaios, estabelecendo premissas consistentes, talvez fosse necessário concordar que a capacidade cognitiva, embora limitada a extensão do raio atingido por nosso olhar, é potencializada em movimento, ao se ampliar a varredura da paisagem a medida em que ela é desbravada. Ocultar as evidências incultas do orador, emulando com pedantismo o ar e o aspecto do intelectual. Uma boa e oportuna metáfora, de modo simples, amplia o universo da experiência pessoal, infla o estofo de uma argumentação. Máquinas, lavadeiras, mendigos, corvos e florestas - mecanismos para observar nossa própria vivência de um lugar possivelmente novo, completamente débil, mas privilegiado apenas pela mira enviesada. "Sua fraqueza é também a sua força." Todo o esforço de construir ideias embrionárias em termos compreensíveis e compartilháveis é lícito, mas deixa sempre vestígios rastreáveis pelo olfato. O cão caçador não pensa em muito mais que encontrar sua presa, sequer considera assassiná-la, mas a segue impiedosamente, farejar é sua mortífera compulsão. Ilumina-se, surpreendentemente, uma pista. Corremos como um cão que também é presa. Locomover-se adquire um duplo valor. 
(Hiato)
Voltemos a primeira afirmação deste texto, já parece mais e mais correta. O encadeamento antagônico de miséria e valor, num mesmo corpo vivo, não é natural. Sinto tais tensões em meus músculos.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Pessoas com uma mentalidade desbravadora e divertida como a tua e a do Saimon, eu espero ter por perto até as últimas etapas de oxidação destas células adubadas pelo fast food.
Demorei para poder amadurecer a ponto de conseguir retornar ao caminho da evolução emocional, aquele que nos torna pessoas queridas e procuradas pela simpatia que exercem, e por isto mesmo, pela empatia que dominam.
Mais uma vez, com a chantagem emocional que me é característica, eu lhe mando lembranças saudosas de quem possui um caráter tendencioso, mas que foi atenuado em sua natureza bélica por pessoas como você, o pastor, Saimon, Lenon, e demais camaradas cujos determinismos sincronizaram com o meu em determinados momentos.
Para ter uma perspectiva de futuro sendo chamado de tio pelos filhos do Saimon, e quiça seus, se os tiver, estou saindo daquela minha condiçao patologica de desempregado, meu caro.
Estou estagiando, faz três meses, como arte finalista em uma agência de publicidade, ajudando(quando posso) a produzir alguma arte conceitual, coisa que fui internalizar de forma completa aqui na propaganda. Arte conceitual, para mim, eram aqueles panfletos do construtivismo russo, e era só... bem, até as topeiras veem a luz, afinal, por vezes, cavam seus buracos para cima.
Mas na maioria das vezes apenas finalizo os anuncios, panfletos e folderes em seus devidos formatos.
Esta sendo prazeiroso.
Gostaria de algumas linhas com notícias suas.

Grande abraço!